Rio de Janeiro, 13 de outubro de
2014
Sou
Ricardo Oliveira,
paraplégico há 15 anos (vítima de PAF, pois tentaram roubar minha moto). A vida
volta e meia me prega umas peças: em 17 de setembro de 2009, quando voltava
para casa no Bairro do Eng. Novo - RJ, parei na calçada e fiquei aguardando o fluxo
dos carros diminuir pois precisava contornar um buraco que vazava muita água de
esgoto. Inexplicavelmente um motorista de ônibus subiu na calçada (para desviar
do mesmo buraco), colidiu comigo e me arrastou por mais de 15/20 metros. Recebi o primeiro atendimento pelo SAMU, fui
levado para o Hospital do Andaraí, após o 1º atendimento e de receber alta no
mesmo dia, me tratei ambulatorialmente no referido hospital por 1 mês e meio. Fui
então encaminhado para o Hospital de Ipanema, onde iniciei tratamento pela
comissão de curativos, e também realizei autocuidados por 1 anos e 10 meses.
Sucessivas hemorragias, febre alta - 41,3º, e muita debilidade física fizeram
com que eu procurasse o Hospital Municipal Miguel Couto. Sucessivas infecções, suspeita de septicemia e declínio do meu estado geral contribuíram para que permanecesse 3 anos
e 6 meses internado, no setor de Clinica Médica, período o qual recebi: 24
transfusões de sangue, fui submetido a 10 pulsões venosas profundas. Fiz 10
meses de antibiótico-terapia, sendo 6 meses consecutivos (entenda-se dia e
noite). Após 3 debridamentos cirúrgicos, ainda seria submetido a 7 cirurgias.
Ah sim, fiz 4 cirurgias em 3 dias (duas no mesmo dia). Recebi sugestão para
amputação do membro esquerdo, – RECUSEI. Recebi outra indicação de amputação de
membro, só que da perna direita, – RECUSEI. Passado algum tempo, outra sugestão
de amputação parcial do membro esquerdo, – RECUSEI.
Atualmente
estou em fase final de cicatrização dos meus ferimentos, – 5 anos de
tratamento.
JUSTIÇA
Nunca
recebi sequer um copo com água da empresa do coletivo. Meu advogado levou 2 anos e 7 meses para dar entrada em meu processo. Me foi negado um pedido de
tutela antecipada. Aguardei perícia médica num hospital público durante mais de
1 ano. Na data da perícia, estando eu internado, ainda assim, precisei me
deslocar por meios próprios até o local da perícia. A perícia foi realizada em
10 de junho de 2014, até o dia de hoje inexplicavelmente o médico perito não
emitiu meu laudo.
SONHO INTERROMPIDO
Entre
os anos de 2002/2004, passei por uma longa internação, superei inúmeras
dificuldades. Numa decisão combinada com médicos cirurgiões a época, fui
submetido a duas cirurgias num curto espaço de tempo e de alto risco com
baixíssimas possibilidades de êxito. Pois bem, aceitei os riscos, venci,
contrariando os prognósticos mais pessimistas. Querido e respeitado por médicos
e corpo de enfermagem do setor da Cirurgia Geral do Hospital Miguel Couto,
comecei a estudar (autodidata) medicina/embriologia humana dentro do hospital.
Os médicos me forneciam os livros, motivado e cada vez mais curioso tive a
ideia de escrever de próprio punho cartas endereçadas a embaixadas e agências
consulares de todo o Brasil, ah sim, o que buscava? Queria uma chance como
voluntário em uma cirurgia experimental com células-tronco embrionárias, sim,
me candidatei como cobaia-humana e obtive algumas respostas. Selecionei os
contatos recebidos por algum tempo, e contatei-os. Escrevi 284 cartas durante
os 365 dias do ano de 2004. O resultado de tantas buscas viria um pouco mais
tarde. Objetivamente nunca fui chamado, mas obtive dois curiosos convites,
precisamente no ano de 2007, mas não tive condições de bancar os custos de uma
viagem/estadia para os EUA.
Durante
os anos de 2007, ao dezembro de 2010, mesmo ferido depois do atropelamento do
ônibus em 2009, ainda sonhando, e como sempre acreditando muito divulguei minha
campanha (via textos) para angariar fundos para minha viagem/estadia em solo
estrangeiro. Percorrendo a zona carioca, e muitas das vezes de porta em porta,
entreguei mais de 100.000 textos. Trabalhei no limite do esgotamento físico
humano, dono de uma disciplina quase militar acordava de segunda a sexta
04:30hs da manhã e partia pra guerra. Sabe, alguns dizem que não acredito em
Deus, mas não gosto que digam isso, afinal não é verdade. Atualmente estou
passando por enorme dificuldade financeira após ter recebido minha alta médica,
tanto que sou obrigado a confessar que o hospital está me fazendo falta. Recebo
R$ 724,00 LOAS (pensão INSS), pago R$ 246,00 de empréstimo mensalmente.
Albergado na sala da casa de minha irmã restam-me poucas economias, pois montei
(sem poder custear) uma estrutura caseira de HOME CARE, confiando em meus
conhecimentos de enfermagem adquiridos após anos de longas internações médicas.
Atualmente
pago (sem poder) duas acompanhantes: uma de segunda a sexta-feira, outra,
sábados e domingos. Meu padrão de vida é totalmente incompatível com minha
realidade. Ainda preciso realizar duas cirurgias: uma plástica na região
glútea, e outra ortopédica no joelho esquerdo. O estado do Rio de Janeiro (até
onde sei), não possuí estrutura e/ou recursos para intervenções cirúrgicas tão
meticulosas. Em São Paulo, sim. Mas preciso de recursos para mais esta
empreitada.
Necessito de doações de qualquer
valor, está em
jogo minha sobrevivência, bem-estar e minha manutenção diária (cuidados
caseiros – curativos, alimentação, e outros), pois até que justiça olhe por mim
talvez meu tempo tenha expirado.