Inicialmente
informo que, pelas dificuldades que irei relatar a seguir, este texto foi
elaborado de forma padrão, pois destina-se a empresas de biotecnologia,
universidades, hospitais, instituições ou interessados que possam ajudar-me nas
questões a seguir: meu nome é Ricardo Oliveira,
sou brasileiro e venho por meio desta pedir uma orientação, um auxílio.
No
dia 06 de Junho de 1999, tornei-me mais uma vítima da violência dos grandes
centros urbanos: fui baleado e fiquei paraplégico.
Sofri uma lesão torácica na medula espinhal (T7/T8) que, apesar de
parcial, não foi tratada adequadamente. Segundo avaliações médicas posteriores
(17 meses depois), eu teria que ter colocado uma luva de titânio (no Brasil
chama-se fixação de coluna vertebral).
O
fato de não ter realizado tal cirurgia causou-me danos horríveis. Hoje, possuo
uma escoliose enorme e, por conseqüência, um desnível em meus quadris (ilíaco),
dando a impressão de que minha perna esquerda seria maior que a direita. A má
postura originou ainda um bloqueio em minha virilha (colo do fêmur-quadril)
que, além das dores, causam-me feridas (escaras), motivos esses que me impedem
de sentar por muito tempo. Passo a maior parte de meus dias deitado. E moro
sozinho em um quarto pequeno, numa comunidade carente no Rio de Janeiro
(Brasil). Posso dizer que sou um sobrevivente.
Senhores,
sou solteiro, tenho 44 anos, não tenho filhos. Diante das circunstâncias, os chamados “amigos”
também sumiram. Passei e passo por diversas situações difíceis, que foram do
total abandono até o acolhimento de pessoas que nunca havia visto em minha
vida. Recebo do governo uma pensão de 80 dólares mensais. Tornei-me mais um
número no meio de tantos que foram esquecidos.
Iniciei,
então, uma solitária luta em busca do desconhecido, pois tenho muita fé. Penso,
luto e faço diferente. Pesquiso e estudo por demais meu problema. Posso dizer
que, até certo ponto, sou bem informado a respeito de programas especiais que
aceitam voluntários em suas pesquisas
(experiências): as denominadas cobaias
humanas. Venho correndo atrás de informações e ajuda. Muito mais do que
isso, tornou-se um ideal de vida para mim, pois, para quem tem o tempo como
maior inimigo, sei que minha única chance seria em caráter experimental. A
medicina hoje aponta-me dois caminhos: o uso de chips e a clonagem
terapêutica de células humanas.
A clonagem terapêutica de células humanas
é justamente o que almejo; é a que mais interessa e fascina, pois sabemos que a
cura desse mal, tido até hoje como incurável em pleno século XXI, só seria
possível através deste método. No mês de dezembro de 2001, a empresa americana
ACT (ADVANCED CELL TECNOLOGY) anunciou ao mundo tal experiência, justamente com
um paraplégico. Não seria esse um precedente? Acompanhando meu raciocínio: por
que um homem como eu, diante de tudo o que relatei aqui, teria de aceitar ser condenado a ficar preso o resto da vida
em uma cadeira de rodas? Não seria essa situação uma espécie de prisão perpétua? O resto da vida é
muito tempo para quem foi condenado na condição de vítima!
Venho
ao longo de cinco anos buscando informações e respostas para minhas questões. O
tempo é curto. Não quero e não posso ficar para trás. Quero ter, pelo menos,
direito a uma escolha.
O meu
mundo não é feito de ilusões — ou virtual. É real, duro e cruel. Nós sabemos
que essa é a realidade! Não seria a Saúde um assunto de interesse mundial,
segundo a OMS, a ONU, a OMC? Baseado nessa teoria, que é um fato, não poderiam
ser derrubadas todas e quaisquer barreiras diplomáticas em nome da vida?
Assisti
na TV, no dia 27 de fevereiro de 2002, que a Câmara dos Lordes britânica
aprovou o uso de embriões para fins terapêuticos. Não seria essa iniciativa um
outro precedente? Daí, reforço a tese: minha
única chance seria em caráter experimental!
Senhores
pesquisadores! Já perdi tudo! Poucas economias ainda me restam. Talvez o
suficiente para uma só tentativa. Então, tomo a iniciativa de perguntar: se eu
disser que chego até vocês, seja onde
for, qualquer país, os senhores iriam acolher-me e ajudar em minhas
questões?
Minha
única e última esperança está restrita a esta carta. Preciso muito tentar.Tenho
ciência da responsabilidade e de todos os riscos que envolvem o assunto.
Acredito ter o perfil ideal.
Vislumbro um horizonte, ainda desconhecido, no qual somente os que perseverarem
alcançarão a cura. Acredito fielmente nos estudos e pesquisas dos homens de boa
vontade que, em nome de uma correta ética, irão aliviar as dores de milhares e,
assim, devolver a luz àqueles que se perderam na escuridão da dor.
Sei
que é possível! Não tenho medo de nada e, reafirmo: estou pronto para tudo e disposto a ir até o fim!
Deus deu-me a
vida. Nasci perfeito para que pudesse caminhar sobre a terra. Hoje, não posso
mais caminhar e pergunto-me: Onde está Deus?
Que Deus abençoe
e ilumine as mentes das pessoas que lerem esta carta.
Ricardo Oliveira
e-mail: ricardomonclair@gmail.com
#ricardomonclair
Fone (55) (21) 98304-3451